segunda-feira, 30 de abril de 2012

Bazar Esotérico Mundos Ocultos


Esta loja apareceu-me à porta de casa. Bazar Esotérico Mundos Ocultos. O que (raio) é um bazar esotérico? Não sei. No meu imaginário, os praticantes de ciências do oculto são isso mesmo, ocultos. Difíceis de encontrar. Ora, segundo o site, A Luz dos Orixás, este estabelecimento tem irmãos por todo o país. Uma espécie de MacDonald’s de macumbas e tanglomanglos onde, imagino eu, há funcionários suados e descontentes a gritar manipansos para uma cozinha de enfezados a cheirar a fritos.

- “Quero um Chiken Mandinga. Natura! E uma Cola Zero.”

- “Quer ranho de amarração?”

- “Não, mas queria mais uns guardanapos.”

Não me interpretem mal. Eu adoro um bom candomblé depois do almoço e a montra promete uma grande variedade de serviços que vão desde consultas com um “Médio-vidente” até “Reiki” ou “Lançamento de búzios”. Tudo para uma religiosidade alternativa. Ou complementar, porque em tempos de crise rezam-se a todos os santos e, verdade seja dita, já ninguém aguenta ficar com a Santa Hóstia colada no céu-da-boca enquanto se tenta balbuciar um Pai Nosso.

Mudando de encantamentos para sortilégios a sério, muito se tem falado sobre a greve dos jogadores do União de Leiria - até a Académica vai entrar de luto no próximo jogo com o Sporting. Imagino que “o luto pela morte da verdade desportiva” seria levado a cabo mesmo se não tivesse sido o Feirense a ganhar aos mal pagos e a fugir dos lugares de descida de divisão.

São exemplos como este que mostram verdadeira realidade de um país. É banal o encerramento, por dia, de dezenas de PME, mas parece ser incompreensível e, até mesmo, chocante quando a falta de dinheiro atinge um clube de futebol. Sacrilégio!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Gotículas parvas. Irritantes.


7:55. Corre um vento frio. Não gelado, nem cortante. Nem muito forte. Simplesmente desconfortável. Sibilante. Irritante. Que arrasta gotículas minúsculas e pretensiosas. Minúsculas e pretensiosas gotinhas que ignoram o chapéu-de-chuva. Idiotas. Incomodativas. Quase tão incomodativas como a cara das pessoas de manhã - inexpressivas. Nem tristes, nem desanimadas. Ausentes, distantes e amorfas. Resignadas com as pingas, mesmo aquelas que, por magia pagã, acertam, certeiras, entre as carnes e as vestes e deambulam vitoriosas, gelando a espinha até à alma e os ancestrais até aos tetravós.

A resignação, enquanto tiver a duração do percurso de casa ao trabalho e desde que com o tempo, é saudável. O grave é quando, para além de ser epidémica, atinge o indivíduo de forma fatal, permanente. Como é que, na mesma semana, ao mesmo tempo que nos contentamos, para o Tribunal Constitucional, com a proposta de indivíduos com falta de currículo e ligações duvidosas (cujo carácter é atestado pelo protagonismo, à vista de todos, de jogadas do clássico xico-espertismo português – cumprindo à risca a lei, mas ignorando o seu intuito), permitimos que, baseado em ideias vagas e imprecisas, se apresente um plano de reforma da Segurança Social, num momento de profunda insegurança social? Apatia face à, demasiado habitual, leviandade lisboeta. Definitivamente.

Ainda bem que Quarta-feira é 25 de Abril. Centenas de pessoas descontentes no Terreiro do Paço. Espero eu, apenas resignadas com a chuva.





terça-feira, 17 de abril de 2012

MAC. Tabaco. Botelhón.


5583. Número de bebés nascidos no ano passado na Maternidade Alfredo da Costa (MAC), a única que registou um aumento do número de partos entre 2010 e 2011 e onde se investiram 11 milhões de euros, desde 2004, em obras de renovação, apesar de um primeiro anúncio de encerramento em 2005. A última versão aponta para o seu desaparecimento até ao final do ano. Nada contra. A MAC, inaugurada em 31 de Maio de 1932, funciona num edifício antiquado. Com todas as condições para ser um centro de excelência, mas velho. Gasto. Não é o prédio que garante o tratamento exemplar dos pacientes. São as pessoas, mais precisamente as equipas. Que se mantenham juntas, noutra rua, noutra morada, é indiferente. O know how não está restrito aos alicerces da maternidade. E ainda bem.

O objectivo seria a transferência para o Hospital Oriental de Lisboa (conhecido como Todos-os-Santos). Ainda não foi construído. Estava previsto receber os profissionais da MAC. Estava previsto para 2014. Estava previsto ser financiado pelo Banco Europeu de Investimentos. Estava previsto. Mas não saiu do papel. Como sempre, sempre culpa da troika. Então, desarticula-se a maternidade. Mas com garantias! Garantindo que a unidade que vier a concentrar a maior parte dos médicos e enfermeiros abrirá um serviço com o nome Dr. Alfredo da Costa. Está resolvido.

Não me choca que 44% da capacidade instalada nos blocos de partos de Lisboa não seja utilizada. Choca-me é que, apesar disso, se abra o Hospital de Loures – gerido pelo BES – e se mantenham parcerias público-privadas incomportáveis, como é o caso do Hospital de Cascais.

Apesar de toda a capacidade intelectual governativa estar focada na restruturação do sistema de saúde da capital, ainda houve força para combater dois grandes flagelos. Os milhares de homicidas que fumam com criancinhas dentro do carro e os botellhóns, proibindo a venda de bebidas alcoólicas em postos de combustível – onde é, reconhecidamente, mais barato comprar seja o que for. Protecção da saúde de catraios e adolescentes de uma vezada só. Depois desta semana era isto que era preciso. Medidas populares, apoiadas pela comunicação social, sem custo para o legislador. Até parece mentira.






terça-feira, 10 de abril de 2012

Diarreia Matutina


Escola Básica de Granda. Valença. Certa professora, entretanto substituída pelo Ministério da Educação, colocava 15 alunos do 3º e 4º anos a assistir a filmes e desenhos animados, acompanhados por uma auxiliar, durante grande parte da manhã. Os meninos começaram a ficar desassossegados, não queriam ir à escola e alguns até começaram a ser seguidos por psicólogos. Não compreendo o porquê de uma criança de 8 anos recorrer a ajuda profissional por ver bonecada a manhã toda – desconfio que, quando a professora saía da sala, a auxiliar mudava para o programa do Goucha e daquela outra arara. Aquilo deprime qualquer um. Até criancinhas.

Só considero haver uma coisa pior que pôr o futuro da pátria a ver a diarreia matutina que passa por televisão neste país. É obrigar um país inteiro a ver a incapacidade que escorre de quem, se não passa a manhã a ver o caso da avó que tentou envenenar o neto ou o último desgosto de amor da Merche Romero, é porque prefere ver a Júlia. No mesmo horário, diferente canal. Falo do Seguro. O moribundo. É certo que o homem só tem tempo para tentar maquilhar os Lellos/Socristas/Socráticos/Socratistas – seja lá o nome da enfermidade - em qualquer coisa parecida com uma bancada parlamentar. Isso e, à boa moda dos programas da manhã, responder aos telespectadores. Ou a comentadores políticos. De resto, nem se uma oposição de medidas fortes fosse coisa para calhar na Árvore das Patacas, o Sonecas tinha carisma para levar ao Parlamento. A sorte é que o António Costa está aí à espreita. Pode ser que esse veja menos televisão.