quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Da Digestão Nojenta à CESPU.



De entre as muitas memórias de infância que vibram de um passado gordinho pouco atreito a jogos de bola, Digestão Nojenta, um livro que em cento e poucas páginas de letra garrafal faz mais pela compreensão das vísceras, entranhas e dejecções que grande parte dos tratados de gastroenterologia, é uma das mais marcantes. É pornograficamente explícito. Descomplicado.


Das horas escanzeladas de leitura a que se permite, o livro oferece explicações variadas sobre motivos diversos do âmbito digestivo, desde um “dossier sobre germes mortíferos”, relacionado com diarreias diversas, gastroenterites, possivelmente, passando por apendicites, amigdalites e outras ites fascinantes para um garoto que o que queria mesmo era ser médico. Médico a sério. Com poder de passear de bata, magicamente indiferente ao movimento do corpo, como se o pano estivesse amestrado, e dominar a sublime e delicada mágica, restrita a alguns seleccionados, de empoleirar o estetoscópio nos ombros, inabalável, sempre pronto para acudir a qualquer batimento menos audível. E passar receitas, obviamente, com uma letra de escrita sonora, conhecedora, papel timbrado, tinta preta, imperceptível se não na farmácia.


O que se aprende neste livro é simplicidade. Devia ser de leitura obrigatória. Existem escolas médicas a mais? Existem, segundo normas internacionais  deve haver uma faculdade de medicina por cada dois milhões de habitantes. Existem nove, em Portugal. Para não se arruinar o investimento já feito, aumente-se o número de vagas em Faro e em Aveiro, fazendo uma racionalização (diminuindo o total) dos numerus clausus, de forma a resolver o problema de sobrelotação, quase claustrofóbica, das restantes faculdades do país, aumentando a qualidade do ensino básico e garantindo a continuidade da formação médica. Simplicidade. Que não passa por abrir mais faculdades de medicina. Privadas ou não.


Ninguém põe em causa a qualidade da formação da CESPU. E até há uma “coincidência muito grande do plano curricular” do curso de Ciências Biomédicas com “os primeiros anos de qualquer curso de medicina”. Só há um problema. Praticamente igual não é a mesma coisa que igual. Bom não é igual a óptimo. Pode até existir uma “coincidência muito grande”, mas óptimo nunca será igual a excelente. E excelência é o que se espera de futuros profissionais médicos.