quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Minha Geração


Findo o caldo, saí de casa, noite quente, um quarto para as nove. Talvez menos, porque o Rodrigues dos Santos ainda aproveitava os últimos minutos de antena da televisão pública. De uma televisão pública. Na última quinta, era no Fiel. Eramos só quatro. E era estranho.

Todos se conheceriam há demasiado tempo, pesando os vinte e poucos anos que ainda se aligeiram nas pernas, não fosse não reconhecer ninguém. Já lá não estão a Xica, nem o Rafa, nem o Toino, tão pouco o outro anafado. As conversas mudaram. Já não incomoda as vinte páginas sobre a Civilização Romana ou as odiosas linhas de uma perspectiva pouco cavaleira que jamais se cruzaram no mesmo ponto. Não interessa se o Lemos come os cordões do capuz ou, mais que tudo, se o Girão trouxe a bola.

O tom de voz é cinzento e sádico enquanto acerta mecanicamente na carne da alma. Até rasgar a pele. Até meter dó. Só já em sangue se permite a última estucada, “Então, e agora?”. É um timbre odioso, putrefacto.

Nessa quinta, foi no Fiel. Fomos só quatro. E foi estranho. Aquela sonância lúgubre escarrou à evidência mais do que me dispunha a ver. Uma geração com quinze ou mais anos de vida hipotecados num papel de comprovativo assinado pelo Reitor. Doutores de nada, uma troca injusta. Não pertencendo a uma geração rasca, com tantos anos de livro, também não partilho de uma geração à rasca. Essa é a dos nossos pais, que vão tentando com o que podem, enquanto podem. Somos uma geração desperdiçada. Não concretizada. Uma geração por ser, porque nunca será nada.






Imagem recolhida de http://designspiration.net/image/2059543330439/. Acedido em 13/09/2012.

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