sábado, 12 de outubro de 2013

Espancado





Esmurrava-o repetidamente. Com gozo estampado na cara, prazer que escorria do cantinho daquele sorriso com laivo de bestialidade, à medida que cada punho era metralhado com a esperança que as falanges que ia moendo naqueles beiços feitos papa, rasgados em sangue, triturassem bem mais que as carnagens daquele infeliz. Lhe moessem o ser, a alma, a vontade. De se levantar. De continuar a roubar-lhe o trabalho. O seu e o dos outros que assistiam com a mesma expressão visceral, enquanto o suor lhe gotejava em bica pela cara arrastando o sangue esguichado a cada pancada e cegando-o, à medida que o arrastavam de cima do estrangeiro, tornado bem mais que um estrangeiro. Não por clemência, que já não era altura para tal. Porque já se estava a fazer tarde. De o devolver à família. Alargada, de novo, com o regresso da filha, formada, desempregada, do respectivo mais-que-tudo-por-casar, formado, agrilhoado nesse escravagismo quinto-imperialista dos estágios não remunerados, e da pequena de ambos que “coitadinha não tem culpa”. Acresce o filho mais novo que vai estudando “mas não vai poder ser doutor como a irmã”, a mulher que ao fim de anos a moer as unhas na colagem das botas, ganhou pouco mais de dez dias de salário por ano de clausura a sulfatar os pulmões com cheiro de cola. Vai tratando da casa, à qual chega. Cansado, batido, humilhado pela vida, para se sentar na sala, à televisão:

- “Subvenções vitalícias de políticos vão ter corte de 15%, promete o Governo.”


Suspira. Ainda tem os punhos a latejar.




terça-feira, 20 de agosto de 2013

Miúdas da Baixa





Não era apenas o fulvo escarlate dos cabelos que, inusitados, se espraiavam sobre a carnagem esquálida, furiosos na ondulação imposta sobre as sardas que pontuavam e tornavam mais mortal a tez alva. Era mais do que o verde que incandescia dos olhos reservados, para quem lhes merecesse a atenção, por aqueles Oakley odiosos, de um horroroso reflexo azul estridente, que reflectia a parvalheira estampada nos mancebos-de-baixa ao depararem-se incautos perante o glorioso acentuado daquelas curvas deliciosas, torneadas apenas pelo afago áspero de uns provocantes calçõezinhos de ganga que, por mero requinte literário, cediam aos bolsos vazios, pendentes, um pouco de protagonismo. Percorria, bárbara de feições e sotaque, os cubinhos enegrecidos da calçada que a viam deslizar divertida pela atenção dos nossos trigueiros, intencionados por uma formosura que, pecando no platónico, idílico do romantismo, ganhava no mais doce e carnal dos desígnios.
…..

Aquele cu de cerveja morria no copo quente, daquela tarde quente, enquanto lânguido deixava desfalecer nos ouvidos as palavras metralhadas como se não cozessem quarenta graus na rua pelo outro, o mais baixito, mais informado sobre os Lorenzos e as Judites e a santidade da constituição que “tinha de ser intocável, imutável, perene” e tantas outras obscenidades que a iam escondendo da sua atenção até ser tarde de mais. Até que, impreparado, atordoado, a viu, entre todas as outras e todos os outros que a tinham visto já e balbuciou, condensando todo o seu lirismo:

- É gira.

- No Verão, tudo o que é preciso é uma rapariga bonita, disse-lhe o outro, o mais baixito, mais informado.





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domingo, 28 de julho de 2013

Cartas à Madrinha






Coimbra, vinte e oito de Julho, do ano do Nosso Senhor de dois mil e treze,
Faz tempo de agradecimento e lavoura, com sol propício ao amanho ou ao passeio,





Cara Tia e Madrinha, por Deus, do meu coração,


Escrevo-lhe com mão tremente de júbilo, esperando que estas tão regozijantes notícias encontrem Vossa Senhoria na graça sã do vigor de bons fluidos e restantes movimentos que permitam o gozo da temporada de descanso, não excluindo os deveres Domingueiros, que com imensurável graciosidade achou por bem estender aos braçais da fazenda, salvo os necessários para a gerência diária das obrigações inerentes à ruralidade.

Vivem-se dias de desenganada felicidade com varões reconhecidos e com nome de família a fazerem ecoar autos de notícia, quer nestas terras abençoadas pelo beijo terno de uma República, que já vai na terceira, como nos sítios regidos pela Coroa Britânica. Dois nascimentos, que alegria!

Os pouco mais de três quilos esguichados por entre o nalguedo plebeu de Catherine, com a pompa e a circunstância devida ao ventre feito real pelo legítimo e honesto marido, têm rendido tença relevante, bem mais que duzentos milhões de euros, na nova moeda, apenas do comércio de parafernália variada para o tratamento dos mais pequenos súbditos do Império.

Em Lisboa, talvez motivados por um bebé real que em duas horas de biografia faz mais pelas poupanças da plebe que dois anos do Governo cá da terra, também se conseguiu o parto, puxado a ferros, de um nado considerado morto durante cerca de três semanas. Havia de ser intervencionado, recauchutado. Soube Nosso Senhor fazê-lo sobreviver, lá saberá melhor.

Dizem os pais, babados de alegria saloia, que maquilhadinho dá um menino muito bonito. Digo-lhe, em jeito de confidência, que, não crendo rogar macumbas ao pequeno, não acredito que se aguente além da calmaria do estio, mesmo resguardado no regaço do vovô Aníbal. Nasceu babão, tortinho, coitado. Quando o puserem frente a uma dívida que transpõe a percentagem dos cento e trinta do nosso Produto, com a necessidade de elaborar novo Orçamento para o Estado, não falando das cicatrizes que impuseram ao cachopo na ânsia da sua sobrevivência, temo que padecerá. Nascerão mais, com a graça do Senhor.

Despeço-me de Vossa Senhoria com os mais cordiais votos de prosperidades na propriedade e com a garantia que a encomendarei nas minhas rogações ao nosso Senhor Deus.


O seu Sobrinho sempre ao dispor,

S. P.












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segunda-feira, 8 de julho de 2013

O Sociopata



Um Portas animalesco de raiva, a espumar pela cabeça de Passos e, completamente cego, a demitir-se do cargo sem dar Cavaco a ninguém, é algo inteligível apenas entre a poeira, o sol e os gritos incrédulos de desespero e abandono que ecoavam pelas ruas chocadas da Capital, que lacrimejavam pelo fim, o nosso e o dele. Como se tal fosse possível vindo de um colosso político cuja capacidade de sobrevivência é directamente proporcional ao número de botões da camisa que vai desaprendendo a apertar.

Não, não foi irracional. Não, não estava louco. Não, não foi impulsivo. O brilhantismo foi de tal ordem, que só depois da jogada feita é que é possível apreciar a sua beleza. Para sair da estagnação política onde se encontrava, aproveitou a falta de uma alternativa credível do PS para apresentar governo, a ausência patológica de um outro líder para o CDS, o medo dos credores de uma restruturação da dívida e o facto de Merkel estar em pré-campanha, preferindo todos um acordo rápido a uma crise política prolongada, para forçar o Primeiro-ministro a mantê-lo no Governo, com as condições que lhe apeteceu exigir.

O mais bronzeado dos sociopatas irá agora fazer uns brilharetes económicos à custa de uns dinheiros do BEI e do KfW. Talvez uma descida irrisória dos impostos, agora que até é chefe da Gaspar.

Na sua perversão sádica expôs a fragilidade do tecido político enquanto jogava com todo um País. Libertou-se da opressão do bom senso e da decência, constituindo uma ameaça para terceiros, para todos nós. Não fosse ele o número dois do Governo e talvez fosse razão para ser internado. Compulsivamente.









Imagem em http://cf.drafthouse.com/_uploads/galleries/27278/american_psycho.jpg. 




quinta-feira, 4 de julho de 2013

The Godfather


Os óculos lacrimejavam por descanso no breu cortado por um ecrã que debitava, demasiado luminoso, os fatos, nus sem chapéu, e aquele sotaque insular com cheiro de um mediterrânio ao sol que escalda o rosado siciliano de italianinhas, com olhos negros de mulher. É um inglês mais que americano, é sensual, voluptuoso, é italiano. É compassado a tiro de bala. Que esconde sobre o virginal do manto familiar uma hierarquia militar baseada no respeito, mesmo deturpado pelo medo, mesmo imposto pela força.

Há que defender o Don, seja ele o pequeno Andolini, que se fez Vito com o suor de quem sobe a punho, seja ele Michael, que mesmo não querendo sempre foi Corleone, ou mesmo Vincent Mancini que, não o sendo de nome, tinha a inteligência calculista e a firmeza de quem deixa o amor de Mary para ser líder de uma família de homens.

Foi uma maratona copolliana que projectou o magnetismo que emana de quem tudo fará para proteger a (sua) Família. De quem põe de parte pequenos interesses mesquinhos, colocando e sabendo nivelar conveniências alheias, que afinal também são suas, no topo das prioridades. De quem não aceita, nem desculpa, traições, mudanças de andamento a meio da música porque matariam um programa comum.

Deslealdades fraternais que poem em causa todo um projecto e toda uma Família que o suportou, que penou por ele durante 2 anos, devem ter o mesmo destino que Fredo Corleone, que rezou o seu último Hail Mary já com aço a fumegar da nuca.


Recomende-se a genialidade do Francis Ford a Paulo Portas e Pedro Passos Coelho, pode ser que deixem de brincar às democracias.




sexta-feira, 28 de junho de 2013

#2


Estou em roaming e vai sair caro.

Michelle Brito

Tenista Portuguesa sobre a hipótese de falar com Cavaco Silva após bater Maria Sharapova.







da série Golpes Por Comentar.





sábado, 22 de junho de 2013

Brasileiros Ingratos

É quente e cáustica e electricamente rápida a correr pelas carnes e fluidos íntimos de nós, apenas para se deixar permanecer hipócrita numa latência mesquinha de pulsar ácido. Foi uma facada, feia. Foi traição. É dor de morte. Foram muitos anos, demasiados meses, no mar, a vergar a vontade das ondas, a namorar sopros alíseos, a comer um conduto, pasta-escarreta-verde-nojo, verde de doença. A dar do corpo na barcaça e a domar, por Deus, a ideação que tropeça nuns olhos que enganam, pelo salitre das pestanas, pela carência do corpo que quer afecto, pelas noites de solidão que vão transformando o perfil bovino-suado, de cheiro caprino do Ribeiro, com o seu visco jactante pela goteira peluda das costas, numa silhueta mui pia, qual sereia, alvo de pensamentos pouco castos.

Tanta coisa para levar o Senhor, a Língua, e, acima de tudo, a Bola ao outro lado do Atlântico. Ingratos. Basta a primeira fornada consistente de uma classe média informada e consciente para sair o povo em luta pela educação e saúde em detrimento de mais betão para proteger o pelado. Degeneraram das suas raízes europeias tementes aos astros de chuteira – deve ser o lado índio, selvático.


Por cá também havia uma secção entre os muitos ricos e os muitos pobres. Emigrada, exterminada à conta de muito futebol e construção civil. Lá, no garrido das praias e das favelas, apareceu há poucos anos, mesmo com o calor, a sunga e a água de coco. Ao menos deixou-se lá sentido crítico. O que foi murchando de podre na Pátria-mãe, aflorou além-fronteiras. Ao menos o Ribeiro não foi sodomizado em vão. Menos mal.










domingo, 24 de fevereiro de 2013

#1


Feliz é o país que protesta com uma canção.

Viviane Reding
Vice-presidente da Comissão Europeia





da série Golpes Por Comentar.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Mano a Mano


     O suor é sempre o mesmo, no mesmo pelado, com os mesmos adeptos que gritam pelas mesmas duas equipas. Ao Domingo, sempre de manhã, que à tarde as pernas deixam-se pesar com uma cerveja, ou várias, para quebrar a monotonia de sofrer, semanalmente, com um confronto sádico com o mesmo adversário. Acontece nas Ilhas Scilly, no campeonato de futebol mais pequeno do mundo, Garrison Gunners contra Woolpack Wanderers, a cada oito dias mais um derby. Maceram-se, infindavelmente, as canelas do costume, mói-se até ao tutano o mesmo lombo, para gládio de quem fica de fora.

                A vantagem de pôr o povo a assistir à repetição de um mesmo jogo é que, para além do resultado ser expectável, não é necessário dar desgaste aos cascos de mais besta alguma, porventura necessária para borrascas futuras.

                Enquanto se ostenta o Ministro dos Assuntos Parlamentares contra umas câmaras de televisão, as claques uivam em uníssono uma música, tornada ladainha, feita reza debitada inconscientemente, despercebendo-se que, ao berrar, impõem uma surdez que esconde mais uma certidão de óbito a um Orçamento com 3 meses.

A mais cristalina das verdades é que sua permanência viscosa neste Governo deve-se à mais absoluta das necessidades. Relvas deixou de ser Ministro para ser um batente de porta.




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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Voltámos aos Mercados


É o dia do costume. À quarta-feira. Talvez não precisasse ser tão de madrugada. Tão cedo que fere os olhos melados de cama, que expõe sádico as carnes molengas, ainda mornas de alcofa, a um vento de nortada que queima de frio.

Tem de ser tão de manhã, quase ainda breu, que é quando chegam as carrinhas. É quando ainda há para escolha. Quando se pesa com justiça. É quando ainda há dia para fazer render.

Voltámos ao mercado. Não pelo saudosismo romântico. Tão pouco pelo patriotismo inflamado de apoio à produção dentro de fronteiras. Voltámos porque se pesa a granel, porque se junta a saco, que um euro por um quilo de feijão, agora, faz a diferença. Porque se pode comprar só meio-quilo, porque se pode pagar só amanhã, ou quando der jeito.

Voltámos aos Mercados. Os outros de sempre. Internacionais. Rejubilamos, sem perguntar se não foi a dívida assim contraída no passado que nos escarrou na cova funda onde estamos, sem interrogarmos a razão de ser desígnio nacional e não um meio para um fim. Macera-se o cadáver de gente que resta para se voltar aos Mercados e depois? Quem sobrará no mercado?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Uma Caridadezinha Nojenta (II)


Quando a qualidade do comentário é superior à do texto comentado, mais que o criticando ou reduzindo à sua verdadeira essência, dando-lhe o devido enquadramento, a gerência vê-se na obrigação de o reproduzir.

Num tempo em que 'estado social' significa apenas mais 4 mil milhões ou menos 4 mil milhões, correta e eficazmente desenhados num folha de Excel (que é, de resto, o único instrumento de gestão que estes senhores são capazes de reconhecer), num tempo e num país onde os 'velhos' são olhados como fonte de receita (até onde poderemos ainda subtrair mais as suas magras reformas?), onde os 'novos' não têm lugar (a não ser talvez no próximo voo da Ryanair), onde o acesso a cuidados de saúde é cada vez mais um bem classificável na categoria de artigo de luxo (e por isso, cada vez mais moderadamente taxado), onde se pretende cortar ordenados a quem muito trabalha (ao invés de se despedir quem nada faz... e, óh deus, são aos mil de cada vez), onde menos 50 mil professores representam mais 710 milhões (e nunca um abaixamento na qualidade do ensino), onde o aumento das propinas representará por certo mais receita (e nunca menos alunos a aceder)... num país e num tempo como este que é cada vez mais próximo de um país e de um tempo que julgávamos ter passado definitivamente à história, qualquer caridadezinha sobranceira parece até coisa boa de se noticiar... é triste assim.
SM

Comentário Anónimo a Uma Caridadezinha Nojenta, in O Golpe do Elevador

domingo, 20 de janeiro de 2013

Uma Caridadezinha Nojenta


Vazio. Mais que o olhar, apagado, no branco esquálido de um quadro que devia estar a ser copiado para o caderno, caso a caneta não pesasse um absurdo, caso a cabeça não estivesse mais vazia que o olhar. O mesmo que escondeu da mãe ao correr de casa. O mesmo que a mãe não lhe mostrou porque não tinha coragem. Porque à parte do olhar, nada mais tinha para ele nessa manhã. Nada. A não ser a vergonha estampada na cara. A impotência que entorpece o corpo, que a obriga a aceitar o inaceitável. Que a leva a considerar que mais vale umas horas com fome na escola, que uns dias, passados a horas lentas, com fome em casa.

Talvez se realmente existisse, ninguém se aperceberia. A invisibilidade da última fila, que, irónica, finge esconder quem não quer ser visto, de quem vê tudo. De quem deixa passar, também por ironia, uns sussurros durante um teste. De quem não pode deixar de ouvir a agonia daquele olhar vazio lá no fundo da sala, mesmo estando de costas, ao traçar uns rabiscos tornados demasiado insignificantes, por quem não os consegue ler.

                Agora, poderá ir ao bar, todas as manhãs. Por uma caridadezinha odiosa, pérfida, de quem acha que conduzir criancinhas pela mão para uma côdea branca e um copo de leite é uma revolução no apoio social das famílias, nada comparável com as filas de esfomeados nos países de terceiro mundo, aos quais só não pertencemos, estritamente, por motivos geográficos. Essas crianças não têm irmãos com fome? E pais com fome? Famílias inteiras com fome, cujos miúdos são apenas o reflexo visível, a ponta do iceberg.

                Apoio social não é caridadezinha. É garantir empregos. É baixar impostos, para garantir empregos. É, se tal for preciso, deixar falir bancos, para investir o dinheiro onde interessa, para baixar impostos, para garantir empregos. É, simplesmente, ter consciência.



sábado, 19 de janeiro de 2013

Os Golpes Mais Vistosos de 2012































quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A Casa de Alterne


O óleo da pele permitia o deslizar obsceno das gotículas de um suor malcheiroso que corriam pela barba até à gola, amarela-surro, de uma camisa pouco branca, pouco limpa. Estava ao balcão, mais que húmido, transpirado, de veludo cor-de-vinho, cor de pejo. Cor de nojo ao sair, quando saísse, que já não era o relógio que mandava, era a vontade do corpo, era a vergonha da cara, horas sentado, desperdiçadas ao bater de cada minuto longe de casa, escondido dos olhos castanhos de uma filha sem sono, com fome, de uma mulher com raiva, sem esperança. Ali, ao menos, olhavam-no com um sorriso, ainda que pago com notas que saíam a demasiado custo de uma carteira vazia, pelo menos até ao whisky começar a fazer efeito, pelo menos até a miúda passar a ser mais um corpo nu, tonificado por noites de palco, por noites de colo, por noites de choro, pelo menos até ser de manhã.

Deixaram-no entrar porque sabiam que ali deixaria o que não tem, o que inventa para comprar tempo longe de si. Sabem que de tudo o que ele deixar, contribuem com uma ninharia, porque segundo quem percebe os “espectáculos eróticos são de cariz artístico e que por isso o IVA deve ser cobrado à taxa reduzida”. É um facto, comparando a leviandade pornográfica de um governo que prefere condenar à miséria quem trabalha, continuando a descobrir dinheiro para privatizar bancos, para nacionalizar dívida, com um par de nádegas vendidas por desespero, leiloadas ao desbarato, o nojo torna-se bem mais suportável.











segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Blogs do Ano 2012 - Aventar



Os resultados do nosso blog no concurso Blogs do Ano 2012, da Aventar:


·         Na categoria Actualidade política – blog individual (29 inscritos)

8ª Posição

·         Na categoria Blog Revelação 2012 (189 inscritos)

16ª Posição

·         Na categoria Blogger do Ano (298 inscritos)

35ª Posição


    A gerência agradece imenso os votos submetidos. Não apenas pelo tempo gasto, segundo a segundo, clique a clique, para os fazer contar na urna virtual, mas pelo apoio, na maior parte dos casos incondicional, que irradia de quem passou os últimos dias a correr para uns links de natureza duvidosa, para preencher umas bolinhas furtivas, escondidas num mar de outros blogs, que até poderiam ser (ou não, definitivamente não), melhores que este nosso favorito.

     Muito Obrigado.












sábado, 5 de janeiro de 2013

Estamos Parados


Parado. Quieto, sentado, encolhido ao esperar no cinzento húmido da manhã, talvez venha. Ou não. A esta hora faz tempo, tornou-se indiferente confirmar clemente a vontade do sádico relógio da estação, que força todos à sua vontade, que os amordaça no atraso. Impondo falta, mesmo sem culpa, mesmo com o cansaço de um corpo batido pelo frio da madrugada.

Parado, ainda. Não virá. Estão de greve esta semana. Também ele deveria. Com dinheiros a haver desde há uns meses largos, que chegariam depois de natal, e até à passagem de ano, e, agora, em conjunto com os trocos de Fevereiro. Se chegarem até lá. Ele, por chegar constantemente atrasado, a empresa, por não ter como receber por trabalho não efectuado por ele e todos os restantes que estão parados, ainda. Porque outros estão de greve esta semana. Com ou sem razão, estamos todos parados. Outra vez.

- A CP informa que, por motivo de greve convocada por diversas Organizações Sindicais, se prevê que possam ocorrer entre 2 e 31 de Janeiro algumas perturbações e supressões nos serviços Urbanos…