Não gostar de
ver futebol em Portugal é duro, ainda mais durante o Campeonato da Europa. Num
país em que as próprias fronteiras traçam um campo da bola gigante, as
consequências para quem não consegue apreciar um bom box to box de um gandulo em calções são várias, incisivas e
duradouras. A reprovação social traduz-se, desde logo, em questões relacionadas
com a orientação sexual. Em acordo comunitário está a estipulação imediata que
o “gajo é paneleiro”. Dependendo dos regionalismos, “rabeta”, “maricas” ou
“panisgas”, “panisguinhas” na sua forma quase paternal, são também aceitáveis. É
certo e sabido, só há dois tipos de pessoas: as que gostam de ver uma peladinha
milionária de indivíduos elevados, nem que seja por umas semanas, ao estatuto
de verdadeiras Padeiras de Aljubarrota,
com o escadeado irrepreensível e as pontinhas meticulosamente aparadas, para o
cumprimento do desígnio nacional, e “os que pegam de empurrão”. Ou doutra forma
qualquer. Como os que se amontoavam ontem à porta do Estádio Cidade de Coimbra.
Quem não
acompanha as vinte e poucas horas de antevisão de cada jogo, num verdadeiro
turbilhão mediático de análises, previsões e comentários, muitas vezes sobre
outros comentários, previsões ou análises – em algumas circunstâncias são
apenas conjecturas fundamentadas no desempenho em partidas desde tempos imemoriais,
outras, simplesmente, baseadas no facto do Ronaldo “ser mesmo muita bom” -
ganha tempo para se deparar com dois pesos e duas medidas. Uma injustiça.
Enquanto que
ao puto maravilha, começado nas lides desportivas pelo Clube Futebol Andorinha
de Stº António, se exige, muito mais que esforço ou competência, excelência em
cada toque de bola, para instituições como a Entidade Reguladora da Comunicação
Social (ERCS) a integridade nem sequer é pré-requisito. Depois de consideradas
reprováveis as pressões e ameaças do Relvas, confirmadas por múltiplos testemunhos,
a ERCS considera não haver provas irrefutáveis, indesmentíveis, inabaláveis de
tal acto e, como tal, escusa-se a divulgar uma decisão final, punitiva. A sorte
é que até se pode deixar passar incólume tamanha incompetência, afinal, nem
sequer está em jogo o título europeu de futebol.
Aqui, está o outro texto sobre o mesmo assunto.
Imagem retirada de http://www.zerozero.pt/foto.php?id=18724. Acedido a 25/06/2012.