Findo o caldo, saí de casa, noite quente, um quarto para as
nove. Talvez menos, porque o Rodrigues dos Santos ainda aproveitava os últimos
minutos de antena da televisão pública. De uma televisão pública. Na última
quinta, era no Fiel. Eramos só quatro. E era estranho.
Todos se conheceriam há demasiado tempo, pesando os vinte e
poucos anos que ainda se aligeiram nas pernas, não fosse não reconhecer
ninguém. Já lá não estão a Xica, nem o Rafa, nem o Toino, tão pouco o outro
anafado. As conversas mudaram. Já não incomoda as vinte páginas sobre a
Civilização Romana ou as odiosas linhas de uma perspectiva pouco cavaleira que
jamais se cruzaram no mesmo ponto. Não interessa se o Lemos come os cordões do
capuz ou, mais que tudo, se o Girão trouxe a bola.
O tom de voz é cinzento e sádico enquanto acerta
mecanicamente na carne da alma. Até rasgar a pele. Até meter dó. Só já em
sangue se permite a última estucada, “Então, e
agora?”. É um timbre odioso, putrefacto.
Nessa quinta, foi no Fiel. Fomos só quatro. E foi estranho. Aquela
sonância lúgubre escarrou à evidência mais do que me dispunha a ver. Uma
geração com quinze ou mais anos de vida hipotecados num papel de comprovativo
assinado pelo Reitor. Doutores de nada, uma troca injusta. Não pertencendo a
uma geração rasca, com tantos anos de livro, também não partilho de uma geração
à rasca. Essa é a dos nossos pais, que vão tentando com o que podem, enquanto
podem. Somos uma geração desperdiçada. Não concretizada. Uma geração por ser,
porque nunca será nada.
Imagem recolhida de http://designspiration.net/image/2059543330439/. Acedido em 13/09/2012.
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