Imagino directores de jornais nacionais a espumar da boca, quais
adolescentes solitários com o último catálogo da Intimissimi nas suas trementes
mãozinhas suadas, quando um qualquer lacaio de trinta anitos, a fazer umas
horinhas a recibo verde há sete, lhe vem informar que os tipos do CNECV – um órgão
meramente consultivo - emitiram um parecer que de forma sumária e em linhas
gerais diz qualquer coisa passível de ser interpretada como um contributo para a
legitimização do corte ao acesso a medicamentos.
Nunca mais se encontrava um título com força suficiente para encaixar
entre as notícias sangrentas do massacre dos poucos que ainda vivem do
trabalho por um governo a que Portas e os outros fixes fingem não pertencer e a
capacidade mobilizadora do Facebook que reformou os autocarros bafientos da CGTP.
Ou era isto ou lá se tinha que ir buscar mais umas escutazinhas do Sócrates. Ou
o facto de o Oceano ser o novo Chalana do Sporting.
Apesar da virginal indignação histérica de uma turba incrédula com a
possibilidade de se “tirar certo tipo de medicamentos a certo tipo de doentes”,o
documento começa por definir quais os medicamentos e quais os doentes a que se
refere com o seguinte parágrafo:
“O pedido formulado por Sua Excelência o Ministro da Saúde diz respeito
à elaboração de um Parecer sobre a
fundamentação ética para o financiamento
de três grupos de fármacos, a saber retrovirais para doentes VIH+, medicamentos
oncológicos e medicamentos biológicos em doentes com artrite reumatoide.”
De forma simples, os tratamentos anteriores são caríssimos mas essenciais
para os doentes e para um estado carente de força produtiva, devendo-se optar
por fármacos com um custo-efectividade elevado, “os mais baratos dos melhores”,
oferecendo-se o melhor tratamento possível ao maior número de doentes, havendo
um “fundamento ético para que o Serviço Nacional de Saúde promova medidas para
conter custos com medicamentos”, antes que que se materialize a sua antecipada
falência.
Posto desta forma ninguém discorda. Assim faz sentido, racionalizar não é
o mesmo que racionar e o que se pretende é uma justa e equilibrada distribuição
de recursos. Mas desta maneira não faz notícia. Assim não vende.
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