Um Portas animalesco de raiva, a espumar pela cabeça de Passos e,
completamente cego, a demitir-se do cargo sem dar Cavaco a ninguém, é algo
inteligível apenas entre a poeira, o sol e os gritos incrédulos de desespero e abandono
que ecoavam pelas ruas chocadas da Capital, que lacrimejavam pelo fim, o nosso
e o dele. Como se tal fosse possível vindo de um colosso político cuja
capacidade de sobrevivência é directamente proporcional ao número de botões da
camisa que vai desaprendendo a apertar.
Não, não foi irracional. Não, não estava louco. Não, não foi impulsivo. O
brilhantismo foi de tal ordem, que só depois da jogada feita é que é possível
apreciar a sua beleza. Para sair da estagnação política onde se encontrava,
aproveitou a falta de uma alternativa credível do PS para apresentar governo, a
ausência patológica de um outro líder para o CDS, o medo dos credores de uma
restruturação da dívida e o facto de Merkel estar em pré-campanha, preferindo
todos um acordo rápido a uma crise política prolongada, para forçar o Primeiro-ministro
a mantê-lo no Governo, com as condições que lhe apeteceu exigir.
O mais bronzeado dos sociopatas irá agora fazer uns brilharetes
económicos à custa de uns dinheiros do BEI e do KfW. Talvez uma descida
irrisória dos impostos, agora que até é chefe da Gaspar.
Na sua perversão sádica expôs a fragilidade do tecido político enquanto
jogava com todo um País. Libertou-se da opressão do bom senso e da decência,
constituindo uma ameaça para terceiros, para todos nós. Não fosse ele o número
dois do Governo e talvez fosse razão para ser internado. Compulsivamente.
Imagem em http://cf.drafthouse.com/_uploads/galleries/27278/american_psycho.jpg.
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