Já se
esperava, era inevitável. E previsível. O povo - o povinho do Soares? -
cansou-se, agastado por tudo e reclamando quase nada. E saiu à rua. Aos milhares,
no fim-de-semana, apanhando o poder repressor de surpresa, organizaram-se para
ocupar os pontos estratégicos do país, invadindo, inteligentemente, os últimos
redutos de esperança para combater a crise. E lutaram com bravura. Munidos de
cruzes, terços, marmitas e mesas portáteis – daquelas azuis, com banquinhos
embutidos, que se dobram sobre si para caberem na mala. Armados de cachecóis, bandeiras
e very lights azuis. Fortalecidos por
Calippos de morango, imperiais e
pratos de caracóis. Fizeram história.
De
uma vezada só, durante cerca de 3 dias, Portugal viu o que não acontecia há
quase 40 anos, uma revolução. Fátima, a praia e, com particular violência, a
Avenida dos Aliados, no Porto. Ninguém pôde ficar indiferente. Ninguém pôde
fingir que nada se passava. Ao mesmo tempo que os manifestantes, sem o dizerem,
gritavam por dinheiro, por emprego, por comida, enfim, por dignidade,
descobriram, acidentalmente, a única saída para situação em que vivem:
rezar, rezar muito e com afinco, ir muitas vezes à praia para encontrar um bom
partido e, no tempo livre, ver a bola com o resto da malta, para apaziguar a alma.
Imagem retirada de http://pedroturner.blogspot.pt/2011/04/25-abril-1974.html. Acedido em 14/05/2012
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