Era uma vez.
Dessa vez a sogra ia lá jantar a casa e, como de outras vezes, o que ela queria
mesmo era comer galinha, o pescoço da bichinha, que, pelas partes rijas e compleição
crocante, o tornam particularmente apetecível.
Era outra vez.
Dessa outra vez, um ministro, especialista na lide com os jornalistas, essa
corja oportunista, ameaça com um blackout
e a publicação de informações sobre a vida privada de uma profissional - conseguidas
onde e com que justificação? - que investigava o seu relacionamento com o
ex-chefe do Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa, um tipo porreiro.
No que toca à
vez considerada em primeiro, para manter o cachaço alto e garantir a aprovação
da velha, Lloyde Olsen decidiu acertar com o machado mesmo junto à cabeça do animal.
O que aconteceu? Estrebuchou e esperneou. Sobreviveu porque, por tão rente
golpe, ficou o tronco cerebral intacto, garantindo um coágulo a não ocorrência
de uma hemorragia fatal. Nascia Mike, a galinha que não se apercebia da falta
de cabeça.
Relativamente
à outra vez, também o ministro esperneia e estrebucha, tentando, através do
envio para a ERC de questões irrelevantes – “jornalismo interpretativo” – afastar
a comunicação social e o público da verdadeira questão. O importante para este
caso deixou de ser o conteúdo da peça, que nem chegou a ser publicada pelo
periódico. Se recebia ou não informações, se as requeria ou não, se se serviu
das sugestões do ex-espião para os quadros das secretas... Irrelevante. Houve
limitação do trabalho da imprensa. Houve pressão do poder político sobre o
trabalho jornalístico. E isso é inaceitável.
O que liga
estas duas vezes? Mike, após 18 meses de vida, muitos dos quais de feira em
feira, morreu asfixiada no seu próprio muco, num quarto de hotel, porque Lloyde
se esquecera do conta-gotas com que a alimentava e removia os sucos do gasganete.
Relvas, após 10 meses como ministro, muitos dos quais de feira em feira, nunca
mais morre, politicamente, com o muco que lhe escorre
da garganta. Pode ser que seja desta.
Imagem retirada de http://www.laboiteverte.fr. Acedido em 21/05/2012.
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