Que
o Português é um bicho ingrato, já se sabia, mas o recente rancor face ao
bitoque é que ninguém percebe. Tornou-se odioso ir ao cafezinho do Velho Diamantino
pedir um pratinho robusto do clássico português que já constituía, a
meio-do-dia, o povo trabalhador antes do Outro pôr a canalha de calção castanho
e braço estendido a adorar a Pátria.
Uma
cola, que o patrão já não deixa pedir uma minizinha para aquecer o espírito e
reconfortar a alma, enquanto se espera pelo derradeiro – a malga. Montada na
cozinha “imaculada” da D. Gertrudes, que já não aguenta o miúdo de colete
reflector, a ASAE-ou-lá-o-que-é, a vasculhar-lhe as facas e a mandar fazer
obras.
O
arrozinho branco, “sequinho”, a namorar com a batata enquanto o ovo, a jeito
para molhar a broa, se pavoneia em cima do bife. Tudo isto por uns euritos. Sete
certinhos, que o Velho Diamantino não se atreveu a aumentar o preço da diária, apesar
do aumento do IVA para 23%, para a clientela não fugir. A pouca que ainda lá
vai. Agora, só os de sempre, os que já lá iam, nem que fosse apenas para dizer boa tarde.
Anda
meio mundo distraído com as últimas. É normal. Mas é que enquanto o Pingo Doce mata
a Mercearia do Gomes e o Seguro cola o
poster do Hollande na porta do quarto, qual adolescente apaixonada, o Velho
Diamantino vai ter de entregar, já no dia 15 de Maio, um quinto de toda a
receita que conseguiu este ano. E vai despedir a Anita, que até se queria casar
em Junho.
- Paciência
Anita, a culpa não é tua, é dos tipos em Lisboa. Sabes, já não é chique gostar
de bitoque.
1. Imagem retirada de http://www.thelisbonconnection.com/portuguese-cuisine-rich-filling-and-full-flavoured/. Acedido em 07/05/2012.
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