Existem
escolas médicas a mais? Existem, segundo normas internacionais deve haver
uma faculdade de medicina por cada dois milhões de habitantes. Existem nove, em
Portugal. Para não se arruinar o investimento já feito, aumente-se o número de
vagas em Faro e em Aveiro, fazendo uma racionalização (diminuindo o total) do numerus
clausus, de forma a resolver o problema de sobrelotação, quase
claustrofóbica, das restantes faculdades do país, aumentando a qualidade do
ensino básico e garantindo a continuidade da formação médica. Simplicidade. Que
não passa por abrir mais faculdades de medicina. Privadas ou não.
O tema não é novo. Aliás, a incapacidade da elite
portuguesa – lisboeta? – fazer uma gestão adequada dos recursos públicos,
roçando já o patológico, o cancerígeno, é um habitué que adocica sarcasticamente
os dias mais sombrios de inverno na Pastelaria Vénus ao virar, mecanicamente,
as páginas do periódico salpicadas de leite.
“Ai, ai, lá estás tu a ser do contra”, exaltam os
guardiões do optimismo, boa-disposição e demais póneis envoltos em arco-íris,
enquanto me dedico a abrir a página da U.A., onde se informa sobre “a não
abertura de vagas para o
próximo ano 2012/2013”. O porquê espraia-se no site da A3ES, que rejeitou a
acreditação do MIM da U.A. “Então, não era isso que tu querias, a
racionalização do número total de escolas médicas?”, vociferam os espertinhos
que gostam de manter um odioso histórico de conversas. Não, não era. Em
particular quando a Comissão de Avaliação Externa, segundo um comunicado da ANEM, recomenda a descontinuação do curso em Julho de 2012. Uma vergonha.
Não é comentável a leviandade política que
permite, contra a opinião de quadros de especialistas reunidos (e pagos) para o
efeito, com o parecer desfavorável (repetido variadíssimas vezes) da Ordem dos
Médicos, com o alerta desesperado da ANEM, com total desinteresse pela
qualidade da formação médica básica e programas de especialidade, a abertura de
um curso para cumprir o mais reles dos objectivos. O populismo fácil.
Não é comentável, não é compreensível o desprezo
com o futuro de jovens brilhantes, 38 de um conjunto de 1000 candidatos.
Licenciados. Melhor sorte tiveram os restantes 962.