Aqui a atrasado, foi por tosse. E foi por febre. Prostração e dor no
peito durante a semana anterior. Foi por doença grave e pelo mimo
característico de um primogénito beirão, herdeiro de nome sem graveto,
habituado a mamãs e vovós, e “coitadinho do meu menino” e “espera que já vamos
ao doutor”. Por vezes, uma expectoração verde-ranho dava um ar da sua graça,
pavoneando-se, toda séptica, brônquio acima, brônquio abaixo. Tinha tudo e mais
o que se inventasse e fui às urgências.
Não demorou muito até ser auscultado e picado e radiografado e “é só mais
um segundinho” e “desculpe, tenho mesmo de atender esta chamada”, numa dança
que demorou apenas o suficiente para dois dedos de conversa com o Sr. Freitas.
Mesmo entre sondas, gazes e tubos percebi que nos encontrámos ali por “um
apertão rijo no peito”. Agora estava bem, desde que a Enfermeira não lhe
voltasse a tentar enfiar a sonda narina acima. Nunca vira ninguém tão piúrço
com um tubo metido focinho adentro.
Na verdade, não prestei muita atenção à conversa de circunstância até que
o antigo empreiteiro se saiu com um desabafo. Áspero. “Isto há vinte, vinte e
cinco anos, vinha dinheiro de fora, construía-se, havia sempre emprego na
construção. O dinheiro não era nosso, mas metia-se nos pavilhões das juntas,
nas rotundas e nas casas do povo aqui e ali.” Acrescentou: “quando estávamos
mais apertados era só meter uns homens num
pavimento de auto-estrada e fazia-se o mês”.
O Sr. Freitas sabe bem que foi uma economia baseada no betão que nos
conduziu aqui, hoje. Sabe bem que agora não há dinheiro para construir. Não há
economia. Porque também não há indústria, nem agricultura, nem pesca. Ao menos,
nem tudo são más notícias. Eu já não tenho tosse, o Sr. Freitas teve alta.
Imagem retirada de http://4olhosxd.blogspot.pt/2009/01/notcia-utilizao-dos-antibiticos-no.html. Acedido em 14/11/2012.
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