Não me lembro do dia, nem tal seria essencial, tão pouco de como chegou a
conversa àquele ponto. Àquele tema. A estupefação foi tanta que as minhas
maneirinhas potencialidades intelectuais permitiram-se reter uma única frase.
Cinco palavras. Nem o locutor, tão pouco o local. “A Juliana Paes tem
celulite”. Sabido que a discussão de pêlos, borbulhas, gordura e demais pregas
afins com deficitárias cromossómicas Y é um lodaçal ingrato cujo resultado
nunca é favorável para o género viril, incauto, apesar de avisado, caí no erro
de me juntar à desinteligência sobre o glorioso traseiro da carioca.
De forma geral falava-se da Gabriela. A novela. Onde a substituição
de uma saloia distintíssima, Sónia Braga, por uma voluptuosa morena com cara de
menina veio contribuir para renovar de súbito o interesse pelo trabalho de
Jorge Amado, apesar de adaptado para acirrar o mais animalesco e suado dos
sentidos.
Como, infelizmente, não sigo a patranha, dediquei-me a procurar a cena alvo de análise anatómica no Youtube. Uma missão profunda e exclusivamente
antropológica. Método empírico, em que, finda a devida e seríssima análise,
concluí a existência da tal gordurazinha localizada. Gordurazinha boa ou má?
Estética ou um nojo? Para cortar ou exibir com orgulho?
Esse parece ser o principal problema da gordura, nos dias correm. Poucos
se entendem sobre: a) a sua real existência ; b) a sua correcta localização; c)
métodos para cortar a que está a mais; e principalmente; d) qual está a mais.
É a questão “d” que deverá suscitar mais dúvidas. Simplificando, banhinhas
repugnantes, escandalizantes, como privatizações duvidosas, por exemplo, o caso
BPN que conta já com nove mil milhões enterrados em processos incertos, ao que
se acrescenta as centenas de assessores, a infinidade de institutos, organismos
e fundações, com as respetivas benesses, as reformas milionárias dos altos
serventes públicos, entre outras, são para abater. Outras, adiposidades
estruturantes e necessárias para untar o tecido social, devem ser protegidas,
acarinhadas. Prestações sociais, serviços públicos como transporte, educação e
saúde, rendimentos mínimos, apoio às artes e investigação. É chicha fundamental,
faz falta.
Há um problema. A forma mais difícil, demorada e eficaz de cortar a
adiposidade seria uma lipoaspiração radical nos institutos, organismos e
fundações. Particularmente os de alçada local. Efeito secundário? O
despedimento de centenas de pessoas que o Governo, numa situação frágil como a
actual, não poderia suportar. Leva antes 50% de tudo o que cada um produz, corta
nas pensões e subsídios. Corta na gordura estrutural. Essencial. Porque é mais
fácil. Rápido. A verdadeira celulite, essa, fica cá toda.
Imagem retirada de http://blogdewilliamporto.zip.net/arch2012-06-01_2012-06-30.html. Acedido em 03/11/2012.
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