Podia, mas
não. Não o ouvi da minha avó. Ouvi outras frases, mas não esta. Não que a
Senhora não tenha sapiência para tal erudição, simplesmente é uma verdade
incómoda. Desde sempre. Ainda o macaco estava a deixar de o ser e o primeiro
homem começava a juntar javalis em cercas e já se sabia:
- “A melhor
espiga é para o pior porco.”
É imperativo engordar o porco, a qualquer custo. Um mau suíno é aquele que não
cumpre o seu desígnio. Encher o bandulho à larga, constituindo bem as carnes,
para depois ser comido. Ponto final. Nasce bacorinho, fofinho, rosinha e meio
parvo, finda chouriço, feijoada, costeleta ou aquilo que a patroa quiser fazer
antes da novela.
Se o bicho
não cresce direito, só há uma solução: abrir os cordões à bolsa e deixar o
farelo de lado. Sai caro. E já não é de agora. Grunhos com manias de senhor já
por aí andam há imenso tempo. E quanto mais se adia a matança, mais o pessoal
se afeiçoa ao bicho, mesmo com caprichos. E vai-se envolvendo na lama,
entretido. E vai comendo.
Quando o porco deixa de ser leitãozinho e passa a ser um macróbio incontinente
com cheiro a ranço velho é que o caseiro se lembra que não o matou. Normalmente,
já vai tarde. Exemplo? Na Madeira só agora se aperceberam daquilo que já há
muito se sabia. Nova auditoria do Tribunal de Contas, mais facturas de muitos
milhões em atraso.
Agora
é que querem apresentar moções de censura? Agora é que querem a matança? Agora
vão tarde. Que o afastem. Que o esqueçam. Mas que partilhem a culpa do estado
em que estão. Mais culpado que o porco que fez o que sabia é quem o deixou
chafurdar uma vida.