É o dia do costume. À quarta-feira. Talvez não precisasse ser tão de
madrugada. Tão cedo que fere os olhos melados de cama, que expõe sádico as
carnes molengas, ainda mornas de alcofa, a um vento de nortada que queima de
frio.
Tem de ser tão de manhã, quase ainda breu, que é quando chegam as
carrinhas. É quando ainda há para escolha. Quando se pesa com justiça. É quando
ainda há dia para fazer render.
Voltámos ao mercado. Não pelo saudosismo romântico. Tão pouco pelo
patriotismo inflamado de apoio à produção dentro de fronteiras. Voltámos porque
se pesa a granel, porque se junta a saco, que um euro por um quilo de feijão,
agora, faz a diferença. Porque se pode comprar só meio-quilo, porque se pode
pagar só amanhã, ou quando der jeito.
Voltámos aos Mercados. Os outros de sempre. Internacionais. Rejubilamos,
sem perguntar se não foi a dívida assim contraída no passado que nos escarrou na
cova funda onde estamos, sem interrogarmos a razão de ser desígnio nacional e não
um meio para um fim. Macera-se o cadáver de gente que resta para se voltar aos
Mercados e depois? Quem sobrará no mercado?