7:55. Corre um
vento frio. Não gelado, nem cortante. Nem muito forte. Simplesmente
desconfortável. Sibilante. Irritante. Que arrasta gotículas minúsculas e
pretensiosas. Minúsculas e pretensiosas gotinhas que ignoram o chapéu-de-chuva.
Idiotas. Incomodativas. Quase tão incomodativas como a cara das pessoas de
manhã - inexpressivas. Nem tristes, nem desanimadas. Ausentes, distantes e amorfas.
Resignadas com as pingas, mesmo aquelas que, por magia pagã, acertam,
certeiras, entre as carnes e as vestes e deambulam vitoriosas, gelando a
espinha até à alma e os ancestrais até aos tetravós.
A resignação,
enquanto tiver a duração do percurso de casa ao trabalho e desde que com o tempo,
é saudável. O grave é quando, para além de ser epidémica, atinge o
indivíduo de forma fatal, permanente. Como é que, na mesma semana, ao mesmo tempo que nos contentamos, para o Tribunal Constitucional, com a proposta de indivíduos com falta de currículo e ligações duvidosas (cujo carácter é atestado pelo protagonismo, à vista de
todos, de jogadas do clássico xico-espertismo
português – cumprindo à risca a lei, mas ignorando o seu intuito), permitimos que, baseado em ideias vagas e imprecisas, se apresente um plano de reforma da Segurança Social, num momento de profunda insegurança social? Apatia face à, demasiado habitual, leviandade lisboeta. Definitivamente.
Ainda bem que
Quarta-feira é 25 de Abril. Centenas de pessoas descontentes no Terreiro do
Paço. Espero eu, apenas resignadas com a chuva.
38 anos já devia dar alguma maturidade à vivência democrática e ao espírito de cidadania... mas não dá. E a resignação, a apatia e o "deixa-andar-desde-que-isso-não-me-afecte", mantêm-se como desporto nacional...
ResponderEliminarÉ duro crescer.
como dizia ainda este fim-de-semana a propósito de outras apatias, estamos a ser uma vez mais amordaçados... ou será que nunca estivemos sem a mordaça?
Beijinhos e continua assim, sempre atento,
Suzana