segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ronaldo, desculpa. Do fundo do coração.


Não gostar de ver futebol em Portugal é duro, ainda mais durante o Campeonato da Europa. Num país em que as próprias fronteiras traçam um campo da bola gigante, as consequências para quem não consegue apreciar um bom box to box de um gandulo em calções são várias, incisivas e duradouras. A reprovação social traduz-se, desde logo, em questões relacionadas com a orientação sexual. Em acordo comunitário está a estipulação imediata que o “gajo é paneleiro”. Dependendo dos regionalismos, “rabeta”, “maricas” ou “panisgas”, “panisguinhas” na sua forma quase paternal, são também aceitáveis. É certo e sabido, só há dois tipos de pessoas: as que gostam de ver uma peladinha milionária de indivíduos elevados, nem que seja por umas semanas, ao estatuto de verdadeiras Padeiras de Aljubarrota, com o escadeado irrepreensível e as pontinhas meticulosamente aparadas, para o cumprimento do desígnio nacional, e “os que pegam de empurrão”. Ou doutra forma qualquer. Como os que se amontoavam ontem à porta do Estádio Cidade de Coimbra.

Quem não acompanha as vinte e poucas horas de antevisão de cada jogo, num verdadeiro turbilhão mediático de análises, previsões e comentários, muitas vezes sobre outros comentários, previsões ou análises – em algumas circunstâncias são apenas conjecturas fundamentadas no desempenho em partidas desde tempos imemoriais, outras, simplesmente, baseadas no facto do Ronaldo “ser mesmo muita bom” - ganha tempo para se deparar com dois pesos e duas medidas. Uma injustiça.

Enquanto que ao puto maravilha, começado nas lides desportivas pelo Clube Futebol Andorinha de Stº António, se exige, muito mais que esforço ou competência, excelência em cada toque de bola, para instituições como a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCS) a integridade nem sequer é pré-requisito. Depois de consideradas reprováveis as pressões e ameaças do Relvas, confirmadas por múltiplos testemunhos, a ERCS considera não haver provas irrefutáveis, indesmentíveis, inabaláveis de tal acto e, como tal, escusa-se a divulgar uma decisão final, punitiva. A sorte é que até se pode deixar passar incólume tamanha incompetência, afinal, nem sequer está em jogo o título europeu de futebol.




Aqui, está o outro texto sobre o mesmo assunto.






Imagem retirada de http://www.zerozero.pt/foto.php?id=18724. Acedido a 25/06/2012.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

As Senhoras do Horta


Fina flor não pede uma jarra de vinho branco para empurrar da goelinha civilizada uma empada de lombo de porco. Pede um cházinho frio, de bule sem gola, ao empregado  – “sempre tão prestável, um amor de pessoa” – que às cinco horas a barriguita já pede um peso que as bolachinhas recheadas não dão. Ficam para a Bianquinha degustar enquanto observa os catraios na praça, para não estragar o apetite para a ceia.

O estabelecimento que, em Viseu e somente para senhoras, era conhecido por encher os serviços de porcelana de pomada do Dão, era o Horta que, ao fim de 140 anos a dar “quebras de tensão” às madames da Beira Interior, fechou. Como os outros. Mesmo os menos finos. Os que não usavam eufemismos. Uma raridade numa altura em que figuras de estilo para suavizar a realidade são uma constante.

Ao fim de meses a repetir o mesmo – a solução para a crise do Euro está em medidas graves de austeridade, que o novo tratado veio devolver a confiança aos mercados e que a culpa da crise é dos países periféricos, uns lambões – aconteceu o que não era suposto. A quarta economia europeia precisa de cem mil milhões de euros para recapitalizar a banca. A fornecer, claro está, que mais vale uma criança com fome que um banco falido. Mas com várias condições! A primeira é que não se pode chamar resgate! Era uma humilhação para um país de bem.

Claramente esta gente das europas e dos bancos nunca foi ao Horta lanchar. Agora também vão tarde para aprender que, quer seja da bebedeira ou do sol forte do Verão, da pipa ou da flute de cristal, no dia seguinte, a ressaca é a mesma. Para todos.

Imagem recolhida de http://guedelhudos.blogspot.pt/2010/01/pastelaria-horta-viseu.html. Acedido em 11/06/2012.