quarta-feira, 26 de setembro de 2012

À Procura de Diana


Foi um deslumbre do que seria. Foi por aquele misto inconsequente de aborrecimento e sadismo. Fez de propósito. Por aquele sorriso que o sangrou, incauto, bem fundo na carne. Foi num instante. Tão rápido que lhe definhou toda certeza de si e deixou-lhe a vontade dela. Agora, nem o ar se deixa respirar, nem o Sol aquece. Nem ele encontra a Diana.

Vai tropeçando, aparvalhado, atrás de nada. Ela não lhe disse que estaria lá. Nem que iria ser dele. Mas vai escrevendo, enquanto grita, porque ele já lhe pertence. Enquanto se humilha nas redes sociais. Enquanto vai estampando páginas de jornal. Enquanto eleva o nome dela o mais alto que pode. Enquanto ela não vem. Nunca virá. Como uma sombra. Por mais que corra, estará sempre a um passo mais de distância. Ali ao pé, desesperadamente longe.


Ele corre, como eu corro. Como nós saímos de casa. Como muitos outros berram com fachas e punhos na rua. Por esperança. Nele cabe um país inteiro que, por comparação, não sabia que estava mal até ela – a Europa, não a Diana – lhe cuspir que estava. Agora sacrifica-se por ela. Sacrifica-se tudo. Para ele valerá a pena, mesmo dilacerado, mesmo sem a Diana, haverá sempre raparigas que entre as últimas noites de Verão fogem na multidão do Bairro Alto. E para nós, valerá a pena?







Imagem retirada da Comunidade À Procura de Diana. Localizada em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=420691831327246&set=a.417228515006911.101089.417224098340686&type=3&theater. Acedido a 26/09/2012.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Grande Fábrica de Salsichas, in aNEMia



Mais uma vez sobre o mesmo. O de sempre. Numa revista com muito mais para oferecer do que salsichas, pode-se encontrar, na página 10, mais um Golpe. Está em todo o lado. 








Mais do mesmo pode ser visto no lugar do costume. A qualquer hora.




quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Minha Geração


Findo o caldo, saí de casa, noite quente, um quarto para as nove. Talvez menos, porque o Rodrigues dos Santos ainda aproveitava os últimos minutos de antena da televisão pública. De uma televisão pública. Na última quinta, era no Fiel. Eramos só quatro. E era estranho.

Todos se conheceriam há demasiado tempo, pesando os vinte e poucos anos que ainda se aligeiram nas pernas, não fosse não reconhecer ninguém. Já lá não estão a Xica, nem o Rafa, nem o Toino, tão pouco o outro anafado. As conversas mudaram. Já não incomoda as vinte páginas sobre a Civilização Romana ou as odiosas linhas de uma perspectiva pouco cavaleira que jamais se cruzaram no mesmo ponto. Não interessa se o Lemos come os cordões do capuz ou, mais que tudo, se o Girão trouxe a bola.

O tom de voz é cinzento e sádico enquanto acerta mecanicamente na carne da alma. Até rasgar a pele. Até meter dó. Só já em sangue se permite a última estucada, “Então, e agora?”. É um timbre odioso, putrefacto.

Nessa quinta, foi no Fiel. Fomos só quatro. E foi estranho. Aquela sonância lúgubre escarrou à evidência mais do que me dispunha a ver. Uma geração com quinze ou mais anos de vida hipotecados num papel de comprovativo assinado pelo Reitor. Doutores de nada, uma troca injusta. Não pertencendo a uma geração rasca, com tantos anos de livro, também não partilho de uma geração à rasca. Essa é a dos nossos pais, que vão tentando com o que podem, enquanto podem. Somos uma geração desperdiçada. Não concretizada. Uma geração por ser, porque nunca será nada.






Imagem recolhida de http://designspiration.net/image/2059543330439/. Acedido em 13/09/2012.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ele é Manco da Cabeça


Ele é atrasadinho. Coitado. É esforçado, bom rapaz e asseado e até vai à missa com a avó, aos domingos, sempre de manhã, que o menino fica nervoso se não come ao meio dia e meia hora, um quarto para a uma. É lerdinho. Cuide-o Deus, que não vai dar Senhor. Tão pouco Doutor Engenheiro. Ai, Nossa Senhora, que este não tem cabecinha que se molde nas ripas rijas de um banco de uma qualquer faculdade. Uma faculdade qualquer, desde que regurgite mais uma ripa, rija, com diploma.

É manquinho da cabeça, meu filhinho. E não foi o Senhor Doutor que disse. Esse também é só congressos, disse a moça do balcão. Nunca está. Sempre para a semana ou no mês seguinte. Ou lá para Novembro que a “tensãozita está óptima”. Da EB 2,3 de Póvoa da Moita, a funcionária que fala com os tolinhos – a psicóloga? - é que enviou uma carta para casa. Já é a segunda vez que chumba de ano e ainda nem fez o oitavo. Caso perdido. Irremediável. Vai para talhante. Electricista, se calhar, que o moço é atreito para os computadores.

A Pátria dá o exemplo a seguir. Do bom aluno. Sempre na primeira fila, sempre atento, sempre pronto a acudir a qualquer requisito mais ou menos sombrio estipulado pelo lente germânico. Ou outro qualquer, que as cadeiras são muitas. O importante é mantermos o rumo ao sucesso trilhado nos últimos meses. Educativo e não só. Nem que para tal se deixe alguém para trás.