quinta-feira, 12 de julho de 2012

A Greve dos Médicos foi uma Vergonha.


      Vi-os a desfilar pela televisão. Estavam de bata. E cartazes. E estetoscópios. Um escândalo, um desrespeito por quem ainda confia nesta gente. Alguns nem médicos eram, meias-lecas de gente a aquecer bancos nas faculdades, e também estavam na rua aos berros, preocupadinhos já, os meninos, por poder não sobrar nada para eles também. Pensava eu, estávamos num país falido. Intervencionado. Onde meio mundo está a perder dinheiro e outro meio já o perdeu. Onde falta para pagar ao funcionalismo público, onde milhares, os economistas por obrigação, fazem contas para chegar ao fim do mês, onde milhares já estão no desemprego, onde milhares não têm como sustentar os catraios, quanto mais pagar consultas, onde milhares não sabem o que fazer da vida. Onde milhares estão desesperados. Onde milhares ainda sabem que podem contar com o SNS. Ainda que moribundo, a dar as últimas. O garante mínimo de saúde a todos. Onde aqueles aperaltados têm o desplante de sair à rua lutar por privilégios adquiridos ao longo de anos. Adquiridos e pagos com o esforço de todos, para todos.

- Desculpem, mas é preciso cortar.

A saúde, como a comida no prato e a educação dos filhos, tornou-se um privilégio do tempo das vacas gordas. Não é para todos. É para quem paga, ao que parece. Daí, a greve dos médicos ser uma vergonha. Teve que sair à rua toda uma classe profissional, gritar aos pés do Ministério da Saúde, para lembrar a quem de direito que, para cortar, que se corte onde está a mais. Nunca na saúde das famílias. Nunca numa altura em que, mais que nunca, é preciso dar garante a quem menos tem. E tem cada vez menos. Nunca confundindo direitos básicos com privilégios. Nunca num estado de direito.