segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O CNECV não vende jornais


Imagino directores de jornais nacionais a espumar da boca, quais adolescentes solitários com o último catálogo da Intimissimi nas suas trementes mãozinhas suadas, quando um qualquer lacaio de trinta anitos, a fazer umas horinhas a recibo verde há sete, lhe vem informar que os tipos do CNECV – um órgão meramente consultivo - emitiram um parecer que de forma sumária e em linhas gerais diz qualquer coisa passível de ser interpretada como um contributo para a legitimização do corte ao acesso a medicamentos.

Nunca mais se encontrava um título com força suficiente para encaixar entre as notícias sangrentas do massacre dos poucos que ainda vivem do trabalho por um governo a que Portas e os outros fixes fingem não pertencer e a capacidade mobilizadora do Facebook que reformou os autocarros bafientos da CGTP. Ou era isto ou lá se tinha que ir buscar mais umas escutazinhas do Sócrates. Ou o facto de o Oceano ser o novo Chalana do Sporting.

Apesar da virginal indignação histérica de uma turba incrédula com a possibilidade de se “tirar certo tipo de medicamentos a certo tipo de doentes”,o documento começa por definir quais os medicamentos e quais os doentes a que se refere com o seguinte parágrafo:

“O pedido formulado por Sua Excelência o Ministro da Saúde diz respeito à  elaboração de um Parecer sobre a fundamentação ética  para o financiamento de três grupos de fármacos, a saber retrovirais para doentes VIH+, medicamentos oncológicos e medicamentos biológicos em doentes com artrite reumatoide.”

De forma simples, os tratamentos anteriores são caríssimos mas essenciais para os doentes e para um estado carente de força produtiva, devendo-se optar por fármacos com um custo-efectividade elevado, “os mais baratos dos melhores”, oferecendo-se o melhor tratamento possível ao maior número de doentes, havendo um “fundamento ético para que o Serviço Nacional de Saúde promova medidas para conter custos com medicamentos”, antes que que se materialize a sua antecipada falência.

Posto desta forma ninguém discorda. Assim faz sentido, racionalizar não é o mesmo que racionar e o que se pretende é uma justa e equilibrada distribuição de recursos. Mas desta maneira não faz notícia. Assim não vende.



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