quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A Casa de Alterne


O óleo da pele permitia o deslizar obsceno das gotículas de um suor malcheiroso que corriam pela barba até à gola, amarela-surro, de uma camisa pouco branca, pouco limpa. Estava ao balcão, mais que húmido, transpirado, de veludo cor-de-vinho, cor de pejo. Cor de nojo ao sair, quando saísse, que já não era o relógio que mandava, era a vontade do corpo, era a vergonha da cara, horas sentado, desperdiçadas ao bater de cada minuto longe de casa, escondido dos olhos castanhos de uma filha sem sono, com fome, de uma mulher com raiva, sem esperança. Ali, ao menos, olhavam-no com um sorriso, ainda que pago com notas que saíam a demasiado custo de uma carteira vazia, pelo menos até ao whisky começar a fazer efeito, pelo menos até a miúda passar a ser mais um corpo nu, tonificado por noites de palco, por noites de colo, por noites de choro, pelo menos até ser de manhã.

Deixaram-no entrar porque sabiam que ali deixaria o que não tem, o que inventa para comprar tempo longe de si. Sabem que de tudo o que ele deixar, contribuem com uma ninharia, porque segundo quem percebe os “espectáculos eróticos são de cariz artístico e que por isso o IVA deve ser cobrado à taxa reduzida”. É um facto, comparando a leviandade pornográfica de um governo que prefere condenar à miséria quem trabalha, continuando a descobrir dinheiro para privatizar bancos, para nacionalizar dívida, com um par de nádegas vendidas por desespero, leiloadas ao desbarato, o nojo torna-se bem mais suportável.











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